sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Quatro a cada dez empresas fecham após os dois primeiros anos. Saiba porque.


Quatro em cada dez empresas fecham após os dois primeiros anos. Os dados são do Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) no estudo Demografia das Empresas. Outra constatação do estudo refere-se à relação direta entre o tempo de sobrevivência e o porte da empresa. Das empresas que fecharam as portas, 99,3% tinham até nove funcionários.


Há, de acordo com o estudo, uma predominância de empresas que não possuem funcionários. Em 2009, 80% dos empreendimentos que entraram no mercado não tinham empregados e 88,5% das empresas que fecharam tinham essa característica.

Confira abaixo entrevista com a professora Letícia Medeiros, do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais, sobre o assunto:

1 - Quais os principais motivos que levam 40% das empresas a fecharem nos dois primeiros anos?
São vários os motivos que determinam a alta taxa de mortalidade das empresas, principalmente nos primeiros anos. Dentre eles estão: a dificuldade inicial de acesso ao crédito, o despreparo dos empreendedores e a alta carga tributária do país. Normalmente, as empresas principiantes não têm acesso facilitado ao crédito, o que é relativamente mais fácil para empresas com vários anos de mercado e bom histórico de adimplemento. Além disso, para que o negócio obtenha sucesso é necessário que os empreendedores possuam conhecimento do negócio, do mercado e da gestão (incluindo questões contábeis, gerenciais, tributárias). Isso demanda um amplo estudo e planejamento antes da execução do negócio. Na maioria das vezes, isso não ocorre. Outro fator relevante é que se tenha o conhecimento exato quanto à carga tributária a que a empresa se sujeitará, pois isso influenciará diretamente no custo e, consequentemente, no preço do produto, elemento determinante para a sua manutenção no mercado.

2 - Quase 100% das companhias que saíram do mercado em 2009 tinham até nove funcionários. Por que o problema afeta predominantemente empresas de menor porte?
Todos os fatores que caracterizam a alta taxa de mortalidade das organizações se agravam quando estamos falando de micro e pequenas empresas. São vários os motivos. Um dos principais é a falta de domínio sobre quem são os fornecedores, a localização para instalação dos negócios, noções de contabilidade, a estrutura de custos de seus produtos ou serviços, a carga tributária incidente e como calcular o preço de venda. Esses dados determinam o sucesso do ingresso do produto/serviço no mercado e, logo, a subsistência do empreendimento. Segundo pesquisa divulgada pelo Sebrae-SP em agosto de 2010, aproximadamente 45% das empresas não pesquisaram adequadamente os hábitos de consumo de seus possíveis clientes. A isso se alia o acirramento da concorrência, sobretudo quando a empresa rivaliza com grandes conglomerados e precisa atender a exigências legais, tais como prestação de informações ao fisco e outros órgãos regulamentadores, etc.

Um problema característico das empresas de pequeno porte é a informalidade. O fato de a empresa não registrar a totalidade das suas operações determina que as informações contábeis geradas não reflitam a realidade do negócio, perdendo-se um valioso instrumento para a tomada de decisão.

Outro detalhe que impacta as micro e pequenas empresas é a indistinção do patrimônio pessoal dos empreendedores e da pessoa jurídica. É requisito para o sucesso do empreendimento um controle eficiente, o que não é viável quando os patrimônios se confundem.

3 - Quais as alternativas que podem ser buscadas por empreendedores para gerir com eficiência a empresa e evitar transtornos futuros?
A pesquisa aprofundada sobre o cenário em que o empreendimento se inserirá é fundamental. O conhecimento do mercado, dos fornecedores, dos concorrentes, da necessidade de tecnologia, de capital, de pessoal qualificado e da estrutura física. A partir dessas informações é importante contemplar um planejamento que leve em conta todas essas questões e que se projete para períodos de longo, médio e curto prazo. O proprietário/empreendedor deve estar atento às oportunidades de formação na área de gestão, negócios, contabilidade, custos, fluxo de caixa e alternativas de investimento. Deve, aliás, assessorar-se de profissionais em todas estas áreas. Atualmente, existem inúmeros softwares, inclusive gratuitos, que são voltados para a gestão e o controle de pequenos e médios negócios e que podem auxiliar bastante no comando do empreendimento.

4 - Que benefícios o pequeno empresário pode esperar com a criação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa anunciada pela presidente Dilma Rousseff?
As micro e pequenas empresas possuem diversas peculiaridades. Vê-se com bons olhos a criação de uma secretaria para tratar especificamente desse assunto. O Projeto de Lei nº 865/2011 propõe uma alteração na Lei nº 10.683/2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, criando a Secretaria da Micro e Pequena Empresa. A intenção dessa Secretaria é formular políticas e diretrizes de apoio à microempresa, à empresa de pequeno porte e ao segmento do artesanato. A Secretaria também tratará de temas como o cooperativismo e associativismo urbanos, a promoção do desenvolvimento de arranjos produtivos locais, programas de qualificação e extensão empresarial e iniciativas para o aumento da participação das microempresas nas exportações brasileiras e sua internacionalização. E pode-se dizer que esse é um dos aspectos mais importantes. Considerando o mercado totalmente globalizado em que nos inserimos atualmente, é factível e recomendável a participação das micro e pequenas empresas no comércio internacional. Para que isso se efetive, é preciso que haja forte ação do Estado, eliminando entraves burocráticos dessas operações e promovendo a profissionalização e o treinamento de pessoal. Estes dois tópicos, aliás, são fragilidades comuns às pequenas empresas.

Nenhum comentário :

Postar um comentário